sexta-feira, 21 de agosto de 2009

SUBLEGENDA


EDITORIAL
O GLOBO
21/8/2009

O petista militante, e de bons propósitos, deve achar que quarta-feira 19 de agosto de 2009 é um dia para esquecer. Nessa data, ao ser cúmplice ativo — a contragosto ou não, o que não tem importância — da manobra no Conselho de Ética (sic) do Senado para engavetar sem qualquer avaliação representações contra José Sarney (PMDB-AP), o partido rasgou o que restava da bandeira da ética.

Sugestivamente, como para marcar posição, a senadora Marina Silva (AC) escolheu esse mesmo dia para se desfiliar do partido, ao qual pertenceu durante 30 anos.
Desiludida há tempos com os compromissos ambientais do governo Lula, a que serviu como ministra durante cinco anos, Marina também era favorável ao licenciamento de Sarney, e por isso abrira mais uma rota de colisão com o Planalto.

No momento em que Sarney e a banda fisiológica do PMDB entraram por uma porta para a zona de proteção do PT, Marina saiu por outra, rumo ao PV e à provável candidatura à Presidência. Será mais um obstáculo ao projeto eleitoral de Dilma Rousseff, com quem se desentendeu no governo.

Também abandonou a legenda o senador Flávio Arns (PR). Não precisou esperar o fim da sessão do conselho de sagração da inimputabilidade de Sarney para anunciar a partida, sem medir palavras: “Eu me envergonho de estar hoje (quarta) no PT.” Não são mesmo lembranças agradáveis a petistas. Mas o dia jamais será esquecido, por representar o desfecho de um processo até mesmo histórico. O enquadramento da bancada do partido no Senado por Lula, na defesa de seu projeto político, eleitoral e pessoal de eleger Dilma com o apoio do PMDB — e para isso acha necessário preservar Sarney a qualquer custo —, encerra um movimento de mudança de eixo do partido, que se subordina afinal ao lulismo.

O primeiro sinal mais visível da metamorfose do partido, assim como de seu líder máximo, foi emitido no escândalo do mensalão e, depois, na campanha de 2006, no caso dos “aloprados”. Diante da ação de um grupo montado no PT para drenar dinheiro ilegal, inclusive público, para a compra de apoio parlamentar, Lula reagiu tentando justificar a prática sob a alegação de que ela seria comum no mundo da política. Também não deixou de passar a mão sobre a cabeça dos “aloprados” — termo dele —, apanhados numa operação criminosa de tentativa de sabotagem da candidatura do tucano José Serra ao governo paulista.

Lula e PT se guiam, no poder, pela máxima de que “os fins justificam os meios”. Fiel a ela, governo e frações majoritárias do partido aceitaram, no segundo mandato de Lula, instalar um balcão mais amplo de negociações fisiológicas no Congresso. Mantiveram aliados e atraíram a banda podre do PMDB. Garantiram votos, mas soterraram de vez o velho PT da defesa da ética na política.

O PT se metamorfoseou, como seu líder supremo, nivelou-se a qualquer das legendas que se preocupam apenas com a proximidade do poder e acesso ao Tesouro.
Fez a opção de ser apenas uma sublegenda do lulismo.

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