EDITORIAL
O ESTADO DE S. PAULO
25/8/2009
A política econômica do governo petista concentrou-se, desde o início, no estímulo ao consumo das famílias para promover o crescimento da produção industrial: criou-se o crédito consignado; mobilizou-se o sistema bancário para expandir o crédito às pessoas físicas, reduzindo as taxas de juros; aumentaram-se o gasto corrente do governo e os vencimentos do funcionalismo; elevou-se o salário mínimo e, assim, os benefícios do INSS; e elevou-se o Bolsa-Família - tudo com o mesmo objetivo. Finalmente, recorreu-se às isenções fiscais. Com isso, o governo se vangloria de sua política keynesiana anticíclica.
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e os ministros da Fazenda e do Planejamento se orgulham de ter aplicado as receitas do economista inglês mais importante do século passado, lorde Keynes. Na realidade o traíram, pois o que ele sugeria contra as crises era o aumento dos investimentos públicos.
Os gastos públicos nos sete primeiros meses do ano passaram de 13,84% do PIB, em 2003, para 18,34%, em 2009. Mas os investimentos do governo, no primeiro semestre, passaram de 0,7% para 0,8% do PIB; os gastos da Previdência Social aumentaram, no mesmo período, de 6,6% para 7,1% do PIB; a folha de pagamento, de 4,3% para 5%; e os outros gastos correntes, de 2,9% para 3,4%.
Pode-se dizer que os investimentos das estatais federais cresceram 45,2% no período, mas foram concentrados na Petrobrás (91,5% do total), enquanto os investimentos de todas as estatais ficaram em 3,2% da dotação orçamentária. O quadro foi agravado porque, com a queda da produção industrial, as empresas privadas deixaram de investir.
O grande erro dessa política foi esquecer que o crescimento da demanda tem origem nos investimentos, que representam gastos vultosos e muito bem distribuídos entre os diversos setores da economia, enquanto os estímulos fiscais reduzem as receitas, diminuindo a possibilidade de investir, e têm efeito limitado no tempo, como mostra a queda das vendas de carros de passeio nos dois últimos meses.
Paralelamente, o aumento artificial do consumo acompanha-se de um aumento do endividamento, que a longo prazo reduz o poder aquisitivo das famílias, como se percebe no fato de que a dívida privada ultrapassou a dívida pública já no ano passado. O governo se considera keynesiano, mas menosprezou os investimentos em favor de uma política artificial de aumento do consumo.
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