Foi uma vitória tão inesperadamente apertada no Supremo Tribunal Federal — 5 a 4 —, que as vantagens políticas do resultado não serão aproveitadas com tanta amplitude quanto estava sendo planejado pelo próprio ex-ministro Antonio Palocci e pelo presidente Lula. Liberado pelo Supremo Tribunal Federal da acusação de ter quebrado o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, o deputado federal Antonio Palocci volta à cena política principal com menos credibilidade do que antes de ter que abandonar o Ministério da Fazenda, e, para se transformar em um curinga para o governo, terá que batalhar muito para recuperar a imagem. Ficará marcado pelos quatro votos contrários, que foram acusatórios, e pelos votos que o salvaram de um processo, que não tiveram o caráter de absolvição que sua aspiração política requeria.
A partir de agora, o governo federal, se quiser ter nele uma alternativa mais substancial para seu projeto político de permanência no poder, terá que turbinar sua atuação, expor sua força política.
A reação da opinião pública à decisão do Supremo Tribunal Federal será fundamental para que Palocci volte a ser uma peça decisiva no tabuleiro político.
O ex-ministro, mesmo antes da reunião de ontem do Supremo, era considerado a melhor aposta do PT para a disputa do governo de São Paulo em 2010, dando ao partido a possibilidade de disputar o cargo com um nome próprio, evitando assim que o presidente Lula insista na extemporânea candidatura de Ciro Gomes.
Mas o resultado apertado pode ter adiado o plano do PT de São Paulo.
É provável que Palocci retorne, de imediato, ao primeiro escalão do governo em uma função política, provavelmente no papel de ministro das Relações Institucionais do governo, para substituir o deputado José Múcio, que deve ir para o Tribunal de Contas da União (TCU).
Mas a possibilidade de vir a ser uma alternativa viável de candidatura à Presidência, caso a da ministra Dilma Rousseff não se fortaleça, tornou-se menos provável com o resultado do julgamento do Supremo.
O mais improvável, porém, é que ele venha a ser o coordenador econômico da candidata Dilma Rousseff, a não ser que ela mude sua visão do assunto.
Em finais de 2005, pouco antes de ter que sair do governo devido a essa acusação de violação do sigilo do caseiro, Palocci entrou em rota de colisão com Dilma sobre uma proposta de ajuste fiscal de longo prazo apresentada pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, com o seu apoio.
A chefe da Casa Civil classificou publicamente a proposta de “rudimentar”, explicitando um racha dentro do governo com relação ao gasto público. De lá para cá, a proposta do Planejamento foi engavetada, e o gasto público foi aumentando, ganhando um papel importante na mudança de estratégia econômica do governo, e sendo aprofundada depois da crise econômica que se instalou no mundo no final do ano passado, dando margem a que fossem chamadas de políticas anticíclicas até mesmo medidas de aumentos salariais assumidas muito antes da eclosão da crise.
Pois o ex-ministro Antonio Palocci não mudou de posição nestes anos em que esteve de resguardo, exercendo discretamente seu mandato de deputado federal e retomando paulatinamente sua influência junto ao presidente Lula.
Ainda esta semana, em um seminário do Instituto Brasileiro de Siderurgia, em São Paulo, em uma palestra sobre as perspectivas econômicas do país e do mundo, Palocci reassumiu o papel de grande estimulador da economia brasileira que marcou sua passagem pelo Ministério da Fazenda, reafirmando sua crença de que será necessário fazer um plano de longo prazo para reduzir o gasto público.
Diplomático, elogiou a atuação da equipe econômica do governo durante a crise econômica, e disse que, no mundo pós-crise, apenas dois países dos Brics surgirão como potenciais parceiros dos países desenvolvidos: Brasil e China.
Palocci reassumiu uma postura que incomodava muito os petistas nos tempos em que era ministro: elogiou a manutenção de políticas econômicas nos últimos 15 anos, atribuindo a essa continuidade o sucesso que o país vem tendo no enfrentamento da crise mundial.
Mas fez questão de ressaltar que o gasto público vem crescendo acima do PIB nos últimos 15 anos, o que não é sustentável. Para Antonio Palocci, o tamanho do Estado brasileiro não depende da vontade política de Fernando Henrique nem de Lula, mas das necessidades de implementação de políticas sociais compensatórias.
No entanto, disse, é possível reduzir os gastos públicos sem prejudicar os programas sociais. E voltou a defender a proposta “rudimentar” de reduzir os gastos para que, num período de dez anos, sejam gradativamente cortados para ficar abaixo do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o que daria uma sinalização de equilíbrio de longo prazo para a economia.
O ex-ministro Palocci encerrou sua apresentação indicando a educação como nova e fundamental prioridade para um próximo governo, com a necessidade de mais qualidade no ensino, depois de termos universalizado a frequência nas escolas, para que o país passe para um novo patamar de desenvolvimento.
Suas palavras são música para os ouvidos dos empresários, mas sua imagem política ainda está muito avariada para que aspire a voos mais altos. |
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